KAYAKADAS ALPINO-PIRINAIKAS

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Kayakadas Alpino-Pirinaikas



PIRINEUS I

JUNHO 2008


Semana do 10 de Junho simboliza ida aos Pirineus para remar a fruta que ainda por lá existe. É sempre um feriado que possibilita tal odisseia e para quem é de Lisboa ainda melhor pois une ao 13 de Junho e por vezes com apenas TRÊS dias de férias goza NOVE. Passemos ao que realmente interessa, este ano, como não podia deixar de ser, metemo-nos à estrada em busca de rios que se situassem nos Pirineus Espanhóis e Franceses. Apesar de não ter havido tanta afluência de remadores como nos anos anteriores, o grupo que foi era o perfeito. Mai Nada !!! Do clube aderiram: Rafael Figueiredo, Luis Quilhó, Juliana Strogan e Ricardo Inverno; aos quais se juntaram dos Tamecanos o Jorge Rabiço, de White Castel Creek Team o Pedro Marquês e das praias de Bragança a surfista Ligia (Lúcia durante esta viagem).

Primeira missão – A viagem de ida

Como o habitual depois de um dia de trabalho era hora de carregar os carros, seguir até à fronteira para nos encontrarmos com o pesssoal que vêm de Norte, Sul e Centro do Pais, recarregar os carros que seguiam em missão, deixar os outros junto à fronteira e zuka truka ... seguir até ao primeiro destino e tentar remar ainda nesse primeiro dia. Depois de várias horas a guiar, a trocar e “destrocar” de condutores lá fomos nós até Broto onde tinhamos contactos devido a um encontro de águas bravas que ia ocorrer nesse fim-de-semana por aquelas bandas.

Segunda missão – Rio Ara (Rápido da Chicane até Fiscal)

Cheios de sono e de fome lá chegamos a Broto, mais precisamente ao Bar Arazas que fica numa das margens do rio Ara. À hora que chegamos já o pessoal da organização do encontro se encontrava com a recepção aberta. Como é tipico em Espanha tratava-se de um encontro bastante informal em que pela quantia de 25 Euros tinhamos direito à tshirt, seguro, “permisso” e jantar. Para nós também nos serviu para tirar as dúvidas que tinhamos em relação aos caudais, uma vez que durante essa semana o rio encontrou-se sempre bem acima do recomendado. Não havia problemas, segundo Quique, podiamos descer o troço para o qual vinhamos fisgados, ou seja a ideia do pessoal mais experiente descer de Torla a Broto e depois seguirmos todos até Fiscal estava assegurada e bem servida em termos de água (1,95 no medidor de Torla). Combinamos com a malta da organização e seguimos para o rápido da Chicane onde o Rabiço tomou logo um pequeno-almoço a bombar. Quais sono quais quê ???


Rabiço a tomar o pequeno-almoço em beleza



Passado uns 15 minutos surgiu o resto do pessoal da concentração, não eram muitos já que montes de rapaziada tinha preferido fazer o percurso mais soft entre Broto e Fiscal. Seguimos com eles e num instante estavamos na primeira portagem, ou seja no açude junto à ponte de Torla. Dai para a frente é uma navegação em classe IV sempre a abrir com destaque para algumas passagens mais puxadas (classe IV+) – Rápido do Z, Caldeirão, Garganta,... Muito divertido, requer experiência, e unhas, para evitar agarranços e banhos mas não se pode dizer que com este caudal seja um percuso muito perigoso.


Inverno a meio do Caldeirão das Bruxas



Quilhó na secção de ondas e rolos



O final deste troço abre bastante e a navegação desce em termos de exigência. Chegados a Broto, combinamos com a organização a hora/local do jantar e seguimos para Fiscal de modo a todos remarmos neste primeiro dia. Neste percurso, algo extenso, podemos destacar o inicio com alguns rápidos mais engraçados e sensivelmente a dois quilómetros do fim uma secção grande de classe III+/IV- que contrastam com metade do troço que é de classe II/III. O fim de um dia em grande só podia mesmo acabar em grande, depois de um lanche gostoso, de umas banhocas no camping e de umas jolas fresquinhas seguimos para o jantar onde nos esperava uma paelha saborosa, um borrego razoável, um vinho intragável e muitos prémios – faltou o kayak que tanto jeito dava a quem já encostou o Nomad Laranja.


Rafa a dar umas dicas de navegação à Ju


Terceira missão – Rio Zinketa (2 km acima do Açude – Plan)

Durante o jantar do encontro do Ara a ideia tinha sido lançada por alguns canoistas como resposta às nossas dúvidas sobre que rio, naquela zona, seria o melhor para o nosso grupo. Desde logo a sugestão de irmos ao Zinketa agradou-nos imenso. As partes altas deste rio não deviam dar para fazer pois o caudal estava muito forte, mas podíamos remar os dois km acima do clássico, portear os dois saltos mais complicados de todo o rio e reentrar no rio depois do barranco das Pombas onde se inicia o percurso clássico. E assim foi, três de nós entramos dois quilómetros acima da comporta onde se encontra o medidor e despachamos uma secção que no fim deu-nos a sensação que já tinhamos a aposta ganha tal era a intensidade da navegação. Classificado pelo Rabiço no seu site - http://www.aquavertical.com/ - como um warm up, sem dúvida que este pequeno troço é algo de espectacular devido a ter um desnivel acentuado, rápidos bastante técnicos e tudo isto numa navegação muito veloz que não é nada compatível com erros.


Rafa e Inverno no warm up do Zinketa clássico


A seguir ao “porteanço” voltamos a entrar no rio mas desta vez o número passou para cinco já que tanto o Quilhó como o Marquês também estavam dispustos a navegar o clássico do Zinketa. Tinhamos um crocki feito por pessoal que conhecia bem o rio a não havia nada a enganar, até ao Cañon Negro era classe IV e depois deste é que tinhamos de começar a analizar as passagens pois algumas eram de V devido à sua velocidade e extensão. ERRADO !!! Antes desta assustadora e bela garganta havia uma passagem de V que no crocki não constava – Ozabre !!! Um, dois, três marmelos a mamarem o rápido sem o inspecionarem. LINDO, BRUTAL, QUE SURPRESA !!! Estavamos todos contentes até começarmos a ver kayakz a chegarem sem donos. Era hora de trabalhos forçados. Toca de continuar a remar um rio desconhecido de todos, onde a fruta mais grossa ainda estava por chegar e em busca de dois barcos. À medida que iamos fazendo o rio iamos ficando com a impressão que a missão estava complicada.


Rabiço à entrada do Cañon Negro



Remamos o Cañon Negro, os rápidos intermédios, o Km lançado que mais pareciam dois ou três, o açude final em San Juan de Plan, o troço entre esta aldeia e a Vila de Plan,..., até que demos por nós num caniçal meio pantanusko. Nan, aqui não podem ter chegado. Solução era mesmo acampar nas margens dos rio, jantar e pernoitar nessa zona, acordar cedo no dia seguinte e fazer as descidas necessárias até encontrarmos os kayakz desaparecidos.




Acampamento em Plan



Assim foi, no dia seguinte acordamos bem cedo, tomamos um pequeno-almoço forte para “o que desse e viesse” e fizemo-nos ao rio mais duas vezes. O plano B já estava traçado e consistia em desistir caso nesse dia as buscas não fossem bem sucedidas e deixar o resgaste entregue a um canoista local, Gorka Ferrus, que já se tinha disponibilizado a recuperar e guardar os cujos ditos quando o caudal baixasse. Felizmente não foi preciso, pois o plano A foi bem sucedido. Na primeira descida encontramos um dos barcos logo após a famosa garganta, facto que nos levou a acreditar que o segundo estaria na drossagem dentro da mesma. Certinho como o destino. Para complementar este pensamento só faltavam uns braços longos e para tal ninguém melhor que o Rafa Figueiredo. Esticou-se ao máximo e com a ponta dos dedos conseguiu trazer o barco para uma zona onde o podiamos resgatar. A missão estava ganha e três de nós tinhamos ficado a conhecer o Clássico do Zinketa melhor que muitos dos rios em Portugal.


Rafa a partir para o desconhecido




Rabiço no Quilómetro Lançado




Inverno num dos rápidos da parte intermédia



Quarta missão – Rio Salat (Salau – Couflens)

No mesmo dia em que remamos o Zinketa debaixo de um sol maravilhoso, ainda conseguimos chegar ao Vale do Salat a tempo de navegar o percurso mais conhecido deste rio mas com um tempo muito nubulado e por vezes de chuva. É normal, e facilmente se conclui que os Pirineus Franceses são muito mais húmidos e chuvosos que o lado Espanhol. A vegetação fala por si. O tempo escassiava e a aventura por terras de nostros hermanos tinham-nos consumido um dia, portanto se queriamos aumentar um rio à nossa curta expedição teria que ser mesmo assim, remar o Salat ao fim da tarde, sempre a bombar e sub um tempo quase nojento para quem está de férias. O desejo de mais uns momentos de adrenalina e de carimbar mais um rio sobrepuseram-se a todos esses entraves. Com efeito, decidimos entrar para a água e remar este rio de classe IV num abrir e fechar de olhos. Com a água que apanhamos é um percurso sem grandes exigências técnicas, bastante corrido e bom para quem se encontra num momento de aperfeiçoamento da sua navegação neste nivel. Divertido e óptimo para passar um bons momentos de navegação sem grandes stress´s. Mas óptimo mesmo seria apanhá-lo com um palmo mais de água – o famoso palmo de água.


Marquês numa das passagens do Salat




Rafa no puro e verdadeiro motokross aquatiko



Depois de um dia em que resgatamos kayakz em Espanha, remamos duas vezes um Clássico de um dos Clássicos dos Pirineus, navegamos um rio na parte Francesa à chuva e fora de horas, só nos restava montar a tenda e irmos deliciar-nos com uma comida quentinha e caseira. Seguimos as indicações do dono do parque de campismo e voilá ... que sopas, refeições e sobremesas deliciosas. Valeu bem o preço !!!


Banquete dos guerreiros



Quinta missão – Rio Garbet (Escales - Oust)

Após muita indecisão e discussão o plano era simples, de manhãzinha Inverno e Rabiço iam “checkar” os rios possiveis de fazer naquela zona. Para além dos caudais havia que contar com o regresso a Portugal, com o facto do Rafa não remar devido a uma dor nos ouvidos e com a nossa vontade de juntar aos nossos planos mais creeks um troço mais moderado para a Ju poder remar connosco. Depois de vários passeios, entre eles o fabuloso vale onde se situa o início do rio Alet, e de diversas discussões a opção estava tomada: Rio Garbet. Era um troço de classe IV/IV+ com esta água pois com mais um pouco rapidamente a secção da garganta passa a V- devido aos rolos e estrangulamentos sucessivos. Mas neste dia estava perfeito para se navegar pela primeira vez, passagens acessiveis, uma paisagem de brandar aos céus, o grupo estava à vontade e respondia bem aos desafios que o rio lhe oferecia. Tinhamos pela frente 2 Km de navegação mais continua e exigente, e ao fim desse percurso a Juliana entrava no rio para remar os restantes 7 Km que segundo as indicações que tinhamos era um troço de III+ com algumas secções de IV. Sem dúvida dos rios mais bonitos que já alguma vez qualquer um de nós remou. Dava a sensação que estavamos a entrar num mundo fabuloso de duendes, fadas e gnomos pois as margens dos rios eram intensamente preenchidas por bosques verdejantes e pequenas cascatas. Deslumbrante !!!


Marquês na entrada da Garganta do Garbet




Rabiço a saborear a cascata da Garganta





Duendes kayakistas no bosque do Garbet



Deixando a poesia para trás, podemos descrever a primeira parte deste troço como um rio género alpino com uma paisagem inacreditável, em que os rápidos se sucedem rapidamente dentro de uma bela garganta, em que a velocidade da água é consideravelmente rápida, originando tudo isto uma navegação divertida e empolgante. O único senão desta secção é o facto dela ser muito curta e consequentemente não demorar mais do que 40 minutos a remá-la – isto para uma primeira vez.
A segunda parte do troço é muito mais aberta do que a primeira, chegando a haver partes em que o rio desce pelo meio de campos cultivados e em que a estrada é visivel. Podemos de uma forma generalista classificar estes 7 Km como um troço de classe III+/IV- uma vez que uma grande parte do rio é remado no meio de passagens rápidas e continuas, que exigem alguma técnica, nem sempre com uma visão total do percurso e com uma pendente razoavel que confere ao rio uma velocidade bastante agradável. É um percurso excelente para quem se encontra na fase de transição entre classe III e IV, e bastante divertida para quem já reme bem. No entanto dois avisos : 1) o inicio deste percurso de 7 Km engana bastante pois à medida que vamos chegando ao fim a navegação vai-se tornando mais exigente; 2) a subida do caudal durante todo o rio é bastante rápida com a queda de uma chuvada forte. Aconteceu connosco e em cinco minutos o rio tornou-se castanho e a velocidade da água aumentou de uma forma impressionante para quem não está habituado a este estilo de rios.



Quilhó a abrir caminho para o resto da trupe




Ju a mostrar as suas garras afiadas para estas andanças



Seria uma injustiça se na descrição deste dia não se fizesse uma alusão à brilhante performance da nossa novata Juliana. Remou durante meia hora, ou mais, todos os rápidos que havia para fazer e sempre a bombar atrás de nós. A principal dica era não parar de remar e se possivel fugir aos “boulders”. E assim foi, enquanto chovia torrencialmente e o rio subia a olhos vistos a Ju mostrou que está ai e no próximo ano contem com ela. Destaque também para o Quilhó que na parte mais “hardcore” decidiu passar para a frente numa de abrir o rio, e além de se desenrascar muito bem ainda mostrou que as suas garras estão a crescer para este desporto. Cinco estrelas !!! Temos casal prometedor para a época de 2008/2009.

Sexta missão – Viagem de regresso

Sniff !!! Sniff !!!
Back to reality !!! E ainda com tantos km pela frente. A viagem faz-se bem e enquanto as histórias duram a alegria está sempre presente. À medida que a fronteira se aproxima as nossas mentes vão sendo possuídas pela ideia “ Rios com água já eram. Só em Julho caso tudo corra bem”. É tempo de voltar à rotina, ao trabalho, aos estudos, ao dia a dia, ... Obviamente que também tem muita coisa boa mas seria muito melhor se houvessem rios para navegar. É o vício...


PIRINEUS II & ALPES I
JULHO 2008


Os planos estavam praticamente traçados. Depois de muitas mudanças não havia nada que enganar, das duas semanas de férias, na companhia da namorada e amigos, alguns dias seriam passados na zona central dos Pirinéus e a maioria teriam como destino a bela cidade de Briançon nos Alpes Franceses. Se por um lado a companhia para os meus planos de caminhadas era muito boa por outro a malta com quem teria o prazer de remar também era excelente. Nos Pirinéus iria tentar remar dois ou três dias com o Palavra, Nunes e Rabiço, enquanto que nos Alpes iria me encontrar com o Bica e com alguns dos Caskaboulons por intermédio do Stéphane Roux, amigo do Rui Calado e com quem já tinha tido o prazer de descer a Garganta do Paiva.

Dito e feito !!! No primeiro dia em que acordei em Torla a curiosidade de saber como estava o Alto Ara em termos de caudal fez-me comer um pequeno-almoço rápido e zarpar para as suas margens antes que o resto do pessoal acordasse. Ainda nem há cinco minutos andava eu a explorar rápido a rápido e já avistava um carro Tuga carregado com três kayaks e lá dentro a maralha que eu só esperava mais para o fim da tarde. Tinham ido fazer os trabalhos de casa bem mais cedo do que eu. Desde o raiar do sol que estas três almas andavam a explorar a fruta dos percursos mais exigentes do rio Ara – o Vale de Bujaruelo. A opinião era unânime: “ isto até se faz mas se algo corre mal e com a velocidade que a água leva estamos lixados” “ deixamos esta missão para daqui a uns dias e assim também aproveitamos para estudar o comportamento do caudal ao longo do dia”. Plano B já estava mais do que traçado. Entrar na ponte de Navarros e remar até Broto era outra das missões pois na nossa visita a esta zona no mês de Junho tínhamos entrado na Chicane e saído em Fiscal. À nossa espera estavam alguns rápidos exigentes, como a Passarela, a Chicane, o Caldeirão das Bruxas, o Z, …, e uma secção engargantada e muito divertida depois do Açude de Torla. Para quem queira remar este troço informo que as passagens mais perigosas (classe V e IV+) dão para portear sem grandes problemas mas a zona mais acelerada da garganta tem de se fazer dentro do barco (classe IV).




Rio Ara – Rabiço no Caldeirão das Bruxas




Rio Ara – Nunes no rock´n´roll sempre a abrir




Rio Ara – Palavra na passagem Rainha desta viagem



É tão bom ou tão pouco que depois de chegarmos a Broto e bebermos umas cañas decidimos voltar a descer este troço a partir da Chicane. Desta vez a única paragem foi mesmo no açude já que o resto foi sempre a abrir. Espectáculo !!!

Segundo dia de férias Pirinaikas e a divisão prevista aconteceu, a malta das águas bravas ia remar para França enquanto eu ficava por Ordesa a fazer umas puxantes e magnificas caminhadas com o resto da trupe – Cláudia, Ricardo, Escudeiro e Clodete. Aproveito para informar quem não conheça a zona que este sítio é magnífico em termos de percursos tanto de águas bravas como caminhadas, e como tal é um excelente destino para quem queira ir num grupo misto, ou seja com pessoal que reme e com outros que não se piquem par tal arte. Aconselho vivamente o percurso de Torla até à Pradera junto ao rio Arazas, a senda dos Cazadores e uma visita à cascata do Cotatuero.



Senda dos Cazadores – Caminhada a não perder




Rio Arazas – é pena ser proibido mas está certo



Passado dois dias, e depois de terem andado para os lados do Cauterets, Gavarnie, Cinqueta, …, os três reis magos voltaram a Torla. Com eles traziam histórias e aventuras para contar bem como uma vontade enorme de remar um dos troços do alto Ara – Garganta de Bujaruelo. Depois de bebermos uns kopos nessa noite e de um sono profundo para alguns, eis o dia que todos esperávamos desde há uns tempos. Local combinado era a ponte dos Navarros por volta das 9h30, passada uma hora lá nos encontramos num tasco em Torla – eh eh eh … como sempre planos perfeitos. Por volta do meio-dia, após termos analisado o caudal do rio, chegamos à entrada deste troço bastante exigente. Começamos na Ponte Nuevo e tínhamos traçado como objectivo sair 500 metros antes da Ponte de Navarros. Assim foi, começamos por navegar em classe IV+ e rapidamente deparamo-nos com a primeira passagem mais forte. Tratava-se de um tobogan seguido de um salto com um rolo e um mega sifão pelo meio (passagem de V).




Rio Ara – Nunes no tobogan de uma passagem brutal



Desta passagem até ao infranquiável, que se vê perfeitamente da estrada, o troço é caracterizado por algumas passagens IV e IV+, já que a maior parte da “fruta grossa” aparece depois da portagem. Com efeito a segunda parte deste troço é muito mais exigente em termos de navegação e obriga a muito mais paragens afim de fazermos os reconhecimentos necessários. Nele existem diversas passagens técnicas com saltos, tobogans e sifões, fazendo tudo isto com que a nossa classificação a esta parte seja de V+.



Rio Ara – Inverno no início de uma das secções de V



Sem duvida que a passagem mais complicada deste troço encontra-se praticamente no fim do mesmo e depois de um rápido enorme de classe V/V+. Trata-se de uma passagem com um duplo escorrega em que no meio encontra-se um rolo e que no final tem um pequeno salto para um recepção tipo piscina. Assim descrito parece fácil mas o problema é tão grave que faz-me classificá-lo de VI pois caso a linha não seja bem feita, a extrema esquerda, o que nos espera do lado direito é decerto uma cadeira de rodas nas melhores das hipóteses. É um rápido lindo, imponente mas que oferece muito perigo a quem o decide remar. Não o fiz mas quando vi o Nunes a decidir remá-lo sem ninguém estar à espera, a adrenalina que senti até ele acabar o rápido foi idêntica à das passagens que tinha feito até ai. Senti-me quase como fosse eu dentro do barco. A seguir ao Nunes foi a vez do Palavra que optou por fazer tudo directo sem parar na contra ao lado do rolo a meio. Sem espinhas !!! Tolos mas com mãos para aquela passagem. Depois desta passagem bastante marcante, tanto para quem fez como para os que a portearam, o rio ainda tinha ainda muitos rápidos imponentes para oferecer. Não dá para facilitar neste troço do Ara. É que não dá mesmo.




Rio Ara – Palavra ao ataque e de kayak roto…ozabre !



Rio Ara – Rabiço numa passagem tranquila



Um dos sonhos de muitos “kayakistas” portugueses estava feito. Um dos percursos do Alto Ara estava carimbado e bem carimbado. No fim era impossível esconder o sorriso que insistia em marcar-se nas nossas caras.
Nessa mesma noite os caminhantes e os viciados pelas águas bravas juntaram-se em volta da mesma mesa numa Pizzaria de Torla. Pizzas com fartura, cañas a dar com um pau, muita historia e depois dos cafés mais umas jolas numa esplanada pois a noite assim o convidava. Não dava para grandes “esticanços” uma vez que todos tinham missões na manhã seguinte. Uns proponham-se a remar o Altíssimo Ara em duas horas antes de partir para Portugal, outros teriam de se fazer à estrada só com quatro mudanças até aos Alpes e por fim sobrava os que queriam visitar de carro o vale do Gavarnie e do Cinca no dia seguinte.



Torla – A vida não é só kayakadas … haja cañas e alegria



Depois de uma noite muito bem dormida era altura de despedida aos Pirinéus ser uma realidade. O caminho era longo e tinha como objectivo dormir num dos parques de campismo existentes nas margens do rio Le Durance. Por volta do meio-dia deixamos Torla e fizemo-nos à estrada em direcção a Briançon. Pelo meio ficaram algumas paragens para comer e arrefecer a viatura pois mil e picos quilómetros em quarta é para morrer. Já era de madrugada quando o rendez-vous programado com Bica´s Family se deu às portas do que viria ser o nosso parque de campismo. Nessa noite chuvosa, e a prometer trovoada, a nossa sina era mesmo dormir no exterior do camping já que aquela hora não havia quem nos acolhesse.
Primeiro dia de Alpes na vida de todos que ali se encontravam. Eu e o Bica com ideias de remar tudo o que fosse possível e ainda alinhar numas caminhadas. Cláudia, Ricardo, Marisa e Namé preparadíssimos para subir a tudo o que era montes e afins.




Namé numa das suas famosas ascensões



Primeiro dia, os dois sozinhos e só com uma viatura disponível a escolha poderia recair para alguns percursos mas já vínhamos fisgados em mandarmo-nos para a garganta do La Durance mesmo no meio de Briançon. A entrada poderia ser no famoso rápido do Malafosse mas pelo que vimos não era para uma equipa pequena e ainda por cima mal dormida. Optamos por entrar na La Vacette, remar a garganta e os rápidos dentro da cidade até chegarmos aos terrenos adjacentes aos do parque de campismo. Este percurso com um caudal médio é tipicamente de classe III com duas passagens de IV. É lindo pois a garganta encontra-se rodeada de edifícios/fortalezas arquitectados por Vauban e as suas altíssimas paredes estão repletas de vias ferratas. Transpira-se cultura, desporto e riqueza patrimonial. Quanto a navegação, simples. Do mais simples possível. Ideal para quem está a dar os primeiros passos em termos de navegação de águas bravas. No que respeita à logística este rio juntamente com o La Guisane são excelentes pois a saída dos mesmos é quase dentro do parque do campismo. Este quase significa caminhar dois minutos com o kayak às costas até à entrada do mesmo. Cinco estrelas !!!




Bica na Garganta do La Durance em Briançon



Nessa mesma noite e durante o jantar iríamos ter a surpresa de sermos contactados pelo Stéphane, o qual nos lançou o repto: “ Amanhã fruta e da boa, mas cedo”. Dúvidas ? Claro que não. Era para isso que lá estávamos. Claro que custava acordar às 7h30 durante as férias mas se queríamos acompanhar os Caskaboulons nas suas missões, caracterizadas por se remar dois ou três rios por dia, teríamos que prescindir um bocado da noite. Um bocado. Mais também não.
O nosso espírito de canoista português levou-nos logo às contas do costume. Ele disse 7h30, ou seja quase de certeza só vai aparecer por volta das 8h00. WRONG !!! Por volta das 7h00 da matina uma voz entoava pelo parque “Portugal Wake Up. Portugal Wake Up”. OZABRE !!! Estes gauleses passam-se – como diria o Óbelix dos nossos tempos. Em poucos minutos já estávamos em casa de um dos Caskaboulons a tomar um típico pequeno-almoço francês. Croissants maravilhosos e baldes de café. Percebíamos que as chuvadas que tinham assolado aquela zona nas últimas duas noites tinham baralhado os planos da malta local. Depois de várias indecisões as opções para o dia estavam tomadas, iríamos tentar navegar o La Biaysse de manhã e o Le Guil de tarde.
Para chegarmos ao La Biaysse tínhamos de nos dirigir ao Parque Nacional de Écrins e dentro do mesmo procurarmos pela zona de Freissiniéres. Passando esta localidade não há nada que enganar, no primeiro descampado à esquerda da estrada estaciona-se o carro e dai podemos controlar o caudal do rio. O rápido que lá existe é o segundo mais complicado do percurso a montante e convém ser bem analisado pois os perigos não são facilmente detectáveis, principalmente as trajectórias mais lógicas e limpas.
A nossa primeira impressão do rio foi que este estava realmente com muita água e consequentemente com uma velocidade louca. Olhando à volta topamos que todos estavam com os mesmos pensamentos. O meu francês é uma lástima mas é o suficiente para perceber “beacoup d´éau”. Olhei para o nosso contacto da zona e eis que encontrei um membro do grupo contente e a perguntar aos outros todos: “E então ?” Dando de seguida a resposta : “Logo se vê” “Embora. Está com muita água mas vamos parando”. Este Stéphane é a versão francesa do “Vai-se andando e vai-se vendo” … Eh eh eh !!!
O resto já vocês sabem como é. Um ateia o fogo e os outros metem a lenha. Neste caso fizemos duas fogueiras diferentes pois uns foram para o troço mais harcdcore, classe IV+/V praticamente o percurso todo, enquanto outros optaram por um hardcore mais soft, classe IV. Claro que o destino já estava traçado, acompanhar o nosso cicerone fosse qual fosse a sua opção.



Stéphane Roux no inicio de um dos passos mais marcados



A entrada para o rio é na junção do La Biaysse, onde podemos admirar as fabulosas cascatas, com o rio Chichin que há quem diga que têm umas passagens brutais por remar (?????). Local para aparcamento é o que não falta neste local. Atenção que aqui o rio pode ser bastante enganador. Para quem já fez o Castro Laboreiro 1 é do género. Se arrastarem um bocadinho é o ideal. Neste dia não se arrastava nada. Passado uns poucos minutos de remar em classe III com bastante velocidade eis que o rio começa a mostrar o que realmente é : UM MOTOCROSS DO KARAGU. Imaginem um Super Sex Up consecutivo, durante três a quatro horas, sempre a cair, cheio de saltos e rolos, com passagens muito técnicas. Não dava para dormir nem cinco segundos. Mesmo as possíveis zonas mais calmas obrigavam-nos a estar muito concentrados pois as margens com este caudal não eram nada convidativas. Soberbo. Não acreditam ? Então porque é que hajam que voltamos lá no dia seguinte antes de irmos ao Gyr ? Ah pois é. Duplamente carimbado.



Leonel a controlar – Um dos Caskaboulons em acção



Clément numa das passagens mais brutais do Alto La Biaysse



Inverno no final de um secção cinco estrelas


Matthieu num dos vários saltos



Bica em grande



Meia hora. Ok, pode ser. No máximo uma hora. Uma hora para comer a partir do momento em que chegamos a Briançon. Passada essa hora tínhamos de seguir para a zona do Castelo de Queyras. Missão Le Guil. Era obrigatório remar este rio. Depois de tudo o que nos tinham falado. As histórias que nos haviam contado. Sem duvida, Le Guil não permitia desculpas.
A zona ? Simplesmente linda. Algo a que não estamos habituados. Entrar numa garganta que se serpenteia em redor de um fabuloso castelo do sec.XIII é uma experiência única e de deixar boquiaberto qualquer um.


O Fabuloso Chateau Queyras



Quanto à navegação do rio podemo-la dividir em duas zonas distintas : 1) Zona da Garganta do Chateau Queyras – Com um caudal médio é uma navegação tranquila para quem navegue bem em classe IV. Não dá para grandes distracções pois existem drossagens em número suficiente para provocar alguns stress´s. Há que remar tranquilo mas forte e concentrado. Com muita água o caso deve mudar de figura. As drossagens de certo que se tornam muito mais perigosas e os rolos mais potentes. 2) Zona do Ange Gardien – Potente. Passagens muito técnicas e mais perigosas que na primeira parte. Aqui as drossagens, os sifões e os rolos que agarram são em número suficiente para nos obrigar a uma navegação sempre ao ataque e a umas quantas saídas do kayak para estudar os rápidos e consequentemente as linhas a seguir. Obviamente que os grandes destaques vão para o Grande S, logo a seguir à ponte, e ao famosíssimo Triple Chute que finaliza esta odisseia.


Clément no inicio do rápido do S



Um dos Caskaboulons no meio do rápido do S



Bica no início do Ange Gardien



Matthieu – um grande canoista e companheiro



Inverno a meio do Triple Chute



É impossível descrever um dia assim. Uma surpresa chamada Biaysse e um clássico vulgarmente designado por Guil. É claro que buja não faltou nessa noite para comemorar estas duas missões. Nada de exageros é claro : )

Terceiro dia nos Alpes Franceses. Acordar cedinho que estes gajos não brincam, tomar o pequeno-almoço e rumar ao encontro do Stéphane Roux e da sua trupe de doidos – no bom sentido é óbvio. De manhã voltamos a remar o Alto La Biaysse e para a tarde tínhamos reservado outro clássico ao qual não podíamos falhar. O rio mais rápido da zona de Briançon e arredores, o veloz Le Gyr. Se conseguirem imaginar um rápido enorme de 4 Km praticamente todo branco tipo cor de leite, com bastantes rolos e com algumas passagens exigentes a obrigar a uma navegação super rápida então na vossa mente só pode estar o Gyr. É aconselhável não virar e é completamente proibido nadar. Foram os 4 Km mais rápidos da nossa vida de canoistas, que foram navegados em aproximadamente 16 minutos. Que quarto de hora, e picos, tão intenso. Mais um que para alguns deu para uma segunda ronda. As fotos, que foram tiradas da margem pela filha de um dos canoistas franceses, falam por si …


Stéphane, Matthieu e Bica num cenário único



Clément em grande plano seguido por mais kayakerz



Bica e Inverno numa das passagens típicas do Le Gyr



Dia de despedida. Dia de combinar uma possível visita de algum pessoal a terras Lusas ao sabor de um vinho branco frutado e uns enchidos da região que o Stéphane tinha preparado em casa dos pais. Uns voltavam ao trabalho e olhavam para nós como uns sortudos que estavam a dois mil quilómetros de casa em férias, outros convidavam-nos a seguirmos com eles por uma semana de expedição por rios Italianos. Claro, para estes olhávamos nós como uns “felizardos de uma figa”. Iam continuar no rock´n´roll e do mais poderoso, lá para os lados do Sésia.

O nosso plano já estava traçado, voltar aos rios que desaguam em Briançon era a única solução para a falta de logística. Ainda ponderamos em arranjar um grupo a quem nos colarmos mas estava escasso de canoistas, e os que havia dedicavam-se às partes mais soft´s dos rios à volta da vila. Uma das nossas escolhas recaiu no La Guisane, que é um rio bastante acessível, com uma excelente pendente que lhe confere velocidade, com uma navegação constante em III+/IV e algumas passagens mais fortes (IV+). Entramos na estância de neve Chantemerie, navegamos durante hora e meia até alcançarmos o La Durance e passado quinze minutos lá estávamos nós a entrar no parque de campismo de kayak às costas. Muito bom mesmo.
Este troço é muito bom para iniciar uma temporada em rios alpinos, porém convém estar atento a três zonas do rio : i) logo nos primeiros 200 metros existe uma passagem debaixo de uma ponte que a linha a fazer tem de ser a do lado direito. Está assinalada e pensamos que a razão desta situação prende-se com a existência de ferros/arames na extrema-esquerda; ii) sensivelmente a 2 Km surge-nos uma rampa a 45 graus que convém verificar. Trata-se de uma passagem artificial que deve formar um retorno imenso quando o rio está em cheia e com o caudal normal não atrai nada pois a probabilidade de se romper o casco do barco é enorme. Isto é a nossa opinião é claro, mas … iii) Uma das secções mais bonitas e exigentes do rio tem tendência a acumular arvores, e lixo, mesmo junto à única linha de passagem existente. Convém ter a certeza que não se falha trajectória ou então ter colegas na margem para o que der e vier. Não se esquecer que é um rio alpino. Corre bem e quase sempre sem piscinas.


Bica a controlar no meio da lenha



Inverno numa secção de rolos e pequenos saltos



Bica de pestana bem aberta



Depois de um dia de caminhadas com paisagens simplesmente magnificas, aonde a todo momento esperávamos encontrar a Heide e o Pedro pois segundo o que consta eles emigraram para os Alpes Franceses, decidimos investir o tempo do nosso ultimo dia naquela região num canyoning fabuloso. A ideia surgiu depois de contactarmos com uma canoista da zona, Guillaume Urso, e este ter descrito o Les Acles como um rio com muito interesse para quem se dedica a estes tipos de desporto. Aceitamos o desafio, embarcamos na missão e lá fomos todos “rapelar” por aquelas marmitas abaixo. Água gelada, troço muito engargantado, cenário por vezes a lembrar um quadro de Dali e passagens muito diferentes do que estamos habituados, caracterizaram esta actividade que soube como uma cereja em cima do bolo.


Inverno num dos vários tobogans do rio Les Acles



Cláudia a rapelar na passagem do poço



Bica a mostrar como se salta sem pára-quedas



A Trupe: Inverno, Ricardo, Cláudia, Marisa e Bica



Ah, é verdade … depois deste canyoning, e para a despedida, ainda houve tempo para um extremo a dois no La Guisane. Surpresa das surpresas, o rio tinha mais água do que a primeira vez que o descemos, fruto do calor desse dia. Sempre a abrir que as bujas no camping já estavam a arrefecer !!!

Sem dúvida, um notável destino de férias para quem gosta de kayak, canyoning, caminhadas, visitas a vilas históricas, …, brilhante mesmo. Falta referir que as pessoas locais foram bastante simpáticas e acolhedoras. Não nos referimos só aos canoistas mas sim à população em geral de Briançon.

Merci beacoup à tout Caskaboulons, a Stéphane Roux, a Clément Falkenreck, a Matthieu Blois, a Guillaume Urso … merci à tout le monde de Briançon.


PIRINEUS III
AGOSTO 2008


Zinketa 2008 - Encontro dos saltos (Org. Tronchapalas)

Fruto da nossa primeira ida aos Pirineus este ano, decorria então o início de Junho, um grupo de três canoistas portugueses (Inverno, Rabiço e Palavra) esteve presente no fim-de-semana 2 e 3 de Agosto em Plan no encontro do rio Zinketa. Tudo começou no encontro do rio Ara quando algum pessoal local, e madrileno, começou a falar connosco e a reparar que tinham ali companhia para uns "tramos más creek´s". Logo nesse jantar, a 7 de Junho, o repto para estarmos presentes foi lançado pelo Goin, um dos membros dos Tronchapalas que organiza este encontro. Na altura achamos boa ideia, deixamos em aberto o convite e combinamos que mais para a frente diriamos alguma coisa. E assim foi, depois de sabermos informações dos caudais nos Pirineus, traçamos um plano que consistia em ir remar os percursos possiveis do rio Cauterets e depois juntarmo-nos à malta espanhola no sábado e domingo.
Dito e feito. Quinta-feira, dia 31 de Julho, depois do trabalho encontramo-nos os três em Viseu, carregamos o famoso bolide de Mondim (k máquina) e seguimos directamente para os Pirineus Franceses. Chegamos cedinho ao destino, depois de uma noite quase sempre de olhos abertos, inspecionamos alguns rápidos do rio, analizamos uma bitola debaixo da ponte de Pierrefitte e optamos por fazer os dois percursos que unem Calypso a Pierrefitte. Nada melhor para abrir bem a pestana !!!


Palavra na primeira passagem da secção de V



Inverno na segunda passagem da secção de V



A primeira parte do percurso pode ser descrita como um troço predominantemente de classe IV/IV+ com passagens bastante fortes de V e VI. Nesta secção aventuramo-nos a fazer praticamente todos os rápidos excepto o VI pois não dá para reconhecer, sendo a portagem feita pela estrada. A segunda parte do rio é navegação constante em IV+/V a uma velocidade incrivel, em que os obstáculos surgem-nos a todo o momento. Rolos e pequenos saltos fazem as honras da casa. Um rio a repetir mas com o sono em dia para tirar um excelente proveito da adrenalina que ele nos oferece.


Palavra ao ataque num dos extensos rápidos da segunda parte



Praticamente no final do percurso tivemos a sorte de encontrar dois canoistas franceses que para além de nos tirarem certas dúvidas também nos ajudaram a recuperar o carro. Obviamente que a nossa paga foi em Super-Bocks - que mais podia ser ???


Palavra a efectuar o pagamento das informações e boleia



Carro recuperado, trouxa arrumada, kayakz bem presos, eram horas de irmos para outra missão. Guiarmos até ao local do encontro mais precisamente em Plan, localidade situada no Vale do Cinqueta próxima a Ainsa e Bielsa. No café principal da "aldeia" já nos aguardavam algumas caras conhecidas e outras por conhecer.
Um Sparghetti Al Rabiço, umas cañas fresquinhas, uns dedos de conversa e uns matrecos marados de perna aberta fizeram o resto da noite que não se prolongou muito pois no dia seguinte era dia de bombar saltos.
Sábado por volta das 10h00 toca a acordar, arrumar as tendas e tomar o pequeno-almoço. Até seguirmos para o rio ainda ia demorar. Se fosse um encontro em Portugal tinha dado confusão devido aos atrasos e à calma com que os organizadores decidiam os passos a dar. Mas não, todos estavam para remar fosse a que horas fosse e pretendiam faze-lo em grupo e sem grandes stress´s. Havia tempo, o calor que começava a sentir-se até ajudou pois derreteu mais neve do glaciar e consequentemente houve um aumento do caudal. Ao início da tarde começamos a subir para as partes mais "hardcore" do rio Zinketa, pelo caminho ia ficando o pessoal que não ia fazer tudo. Fui ficando com a impressão que quanto mais subiamos maior era o grau de dificuldade pois no fim só restavamos oito pessoas com a finalidade de remar os percursos todos. Finalmente lá chegamos a uma parte em que se via o rio a "cair bastante", de perfil estreito e rodeado de uma natureza brutal. A primeira parte do troço era composta por saltos dos mais diversificados géneros - altos, baixos, limpos, técnicos, com batente. Até chegarmos ao "Salto Bonito", onde iria entrar mais uma parte dos participantes, tivemos ainda que fazer uma portagem com recurso a cordas já anteriormente colocadas. Após fazermos este rápido juntamos-nos à malta e continuamos em direcção ao "canyon rojo", que não é mais do que uma garganta bastante sinistra com uma passagem mais marcada de um duplo salto que nos manda para uma parede e forma um género de rolo na diagonal - impressiona mas faz-se :) Até encontrarmos a ultima remessa de pessoal ainda passamos por uma passagem que os locais lhe chamam o "rebufo da pilota" pois dizem que naquele rolo já lá ficou uma bola durante um ano.


Rabiço a mostrar as suas unhas logo no primeiro salto



Palavra num dos saltos mais fixes do rio Zinketa



Agustin Rodriguez no Salto Bonito



Saindo desta soberba garganta, o grupo aumentou e até ao final destaque para uns saltos, uns tobogans e para uma secção infranquiavel que o Rabiço ainda decidiu remar alguns rápidos. Destaque-se ainda a malta muito porreira que apareceu, a boa organização dos Tronchapalas, a paisagem brutal que existe neste Vale, o jantar com vários pratos à escolha, as cañas e as chicas na festa de lá LaFortunada, ..., e muito mais.

Resumindo : Cauterets sempre a abrir. Para mim um dos meus tops em termos de adrenalina e Zinketa com os seus saltos, passagens mt técnicas (IV e V) e natureza envolvente brutal. Talvez os dois rios mais marcantes dos Pirineus a par do Ara e do Gavarnie.
Deliciem-se com algumas das fotos mais bonitas que tiramos ...


Vítor noutra perspectiva do Salto Bonito



Inverno na versão espanhola do Autoclismo



Vítor no interior do Cañon Rojo – Duplo Salto



Inverno no “big tobogan” do alto Zinketa



José Lloret num dos tobogans finais



Agustin Rodriguez a mostrar toda a sua técnica



Goin na ultima passagem do dia




Gracias a los Tronchapalas, a la aldea de Plan, a Gorka, a Goin, a Augustin, a Mercedes, a Maria José, a Victor, a Javi, a Lloret, ..., e muchos más !!!

Hasta el año que viene


Um obrigadão ao Paulo de Anadia pelo eterno empréstimo do kayak que me permitiu embarcar nestas missões todas. Comecei na fruta nacional mais poderosa neste barco, quem diria que passado uns anos iria experimentar tanto rock´n´roll internacional no gajo … é o destino !!!


Ricardo Inverno
Clube de Canoagem e Águas Bravas de Portugal




Acerca de mim

sempre de kayak às costas :)